Ela chegou aos Estados Unidos em 2020 com apenas 100 dólares no bolso, cheia de dívidas e sem qualquer experiência na área da estética. Mas France Sullivan encontrou na profissão de depiladora não só uma fonte de renda, como também uma rota de transformação pessoal e profissional. Hoje, além de manter a filha na faculdade de medicina no Brasil, ela comanda seu próprio negócio em Winter Park, treina outras profissionais e fatura alto com atendimentos rápidos, eficazes e bem posicionados.
Nesta edição, ela abre o jogo e compartilha o que ninguém conta sobre a profissão que muitas brasileiras acreditam ser “fácil e lucrativa”. Spoiler: pode ser sim — mas só se você souber onde pisar.
1. Muita gente acha que depilação é “só passar a cera” — mas quem trabalha com isso sabe que é muito mais além. Quais habilidades invisíveis você acredita que são fundamentais para ter sucesso como depiladora nos EUA?
Prática diária. Por mais que a pessoa aprenda tudo em uma escola ou treinamento prático, nada se compara ao real atendimento ao cliente. Só a partir daí que as habilidades são adquiridas.
2. Você chegou a atuar como depiladora no Brasil ou só começou aqui nos Estados Unidos? O que mais te surpreendeu em relação à clientela e à cultura americana?
Nunca trabalhei com isso antes. Sou advogada por formação e larguei a advocacia no Brasil para empreender. Tive várias empresas por mais de 15 anos, mas nenhuma delas na área da estética. Aprendi tudo do absoluto zero aqui nos Estados Unidos. Meu primeiro ano foi em Atlanta, e estou há quase 5 em Orlando. Hoje tenho meu próprio negócio em Winter Park. E o que mais me surpreende na cultura americana é o quanto eles gostam de depilação — fazem por hábito, por não gostarem de pelos. Mas o melhor mesmo são os tips, que são simplesmente extraordinários, principalmente se você trabalhar em uma área boa. Como eu trabalho em uma área nobre, é comum receber tip de $20, $30 e até $50 por um serviço de 20 minutos, por exemplo. Recentemente recebi um tip de $300 fora o valor do serviço. Isso faz toda diferença na clientela americana.
3. Existe um mito de que a profissão é ‘fácil de entrar e lucrativa rápido’. Qual foi o maior desafio que você enfrentou no início — e o que ninguém te contou?
Sim, é um mito que é a mais pura verdade. Não é fácil encontrar depiladoras, por isso que se paga tão bem. Vou falar por mim: foi super fácil e rápido também. Cheguei aqui nos Estados Unidos em um domingo e na terça já fui contratada por uma empresa. Apenas eu estava no meio das pessoas certas. E como eu precisava fazer muito dinheiro, no início optei por trabalhar de domingo a domingo, e isso fez com que eu pegasse experiência muito rápido. Mas meu maior desafio foi aceitar, nos primeiros meses, um pagamento de $60 por 8h/dia. Aceitei porque eu sabia onde queria chegar. Com 4 meses eu já estava fazendo $1.500 por semana.
4. A relação entre cliente e depiladora é quase terapêutica. Você já viveu alguma situação marcante ou inesperada no atendimento que te fez perceber o poder dessa conexão?
No meu caso não, assim como também muitas amigas minhas depiladoras que fazem entre $100.000 a $200.000 por ano apenas de comissão, não têm tempo de manter esse momento terapêutico porque temos um atendimento muito rápido. É super fácil para depiladoras experientes fazer $100 em 30 minutos. Mas se deixar, tem algumas clientes que vão fazer desse momento, um momento de terapia.
5. Você se posiciona de forma muito profissional e ao mesmo tempo acolhedora nas redes. Como você equilibra branding pessoal com a rotina de atendimento e formação de equipe?
Aprendi que o melhor branding é fazer o melhor serviço com qualidade e com rapidez. É um momento de dor e de muito desconforto — não é um momento de terapia nem de bate-papo. Os clientes querem sair dali o mais rápido possível. Então, cada dia fico mais conhecida por minhas habilidades e mais novos clientes aparecem todos os dias. Consigo equilibrar tudo isso com muita tranquilidade.
6. Hoje você também é referência e oferece treinamentos. Quando você percebeu que poderia (e deveria) sair do operacional e expandir para um modelo mais escalável de negócio?
Quando eu vi que as pessoas infelizmente não têm as informações do quanto é simples ingressar nessa profissão. É impressionante o quanto ainda não acreditam que podem começar mesmo sem nenhuma experiência — e até mesmo sem falar inglês. Já treinei várias pessoas que começaram a trabalhar na loja e se comunicavam com as clientes pelo Google Tradutor. Por isso, oriento que comecem pela informação: como dar o primeiro passo. Indico meu Guia Completo sobre como ser uma depiladora de sucesso, disponível em www.depilacaonagringa.com. Assim, a pessoa pode decidir se é mesmo o que deseja.
7. O que diferencia uma depiladora que fideliza clientes e cresce na carreira de uma que acaba estagnando ou desistindo?
Na verdade, por todos esses anos como depiladora, não conheci nenhuma que desistiu. Ou continuam trabalhando para uma empresa ou abrem seu próprio negócio. Mas acho que as que desistem é porque não têm as informações corretas que as colocariam em um patamar de sucesso profissional e financeiro.
8. Por fim: o que você diria para quem está começando agora e romantiza essa profissão? E qual conselho você gostaria de ter ouvido lá no começo da sua trajetória nos EUA?
Não importa quanto você vai ganhar nos primeiros meses — o início sempre será mais desafiador. Mas, em 6 meses de dedicação, as propostas já começam a aparecer. Hoje, se eu disser que estou disponível para o mercado, mesmo para uma empresa nova e ainda sem clientes, eu teria facilmente uma garantia de $300 por dia fixo. Também é muito importante saber onde estar. Apenas não desista e esteja no meio de pessoas certas.
