1 Daniela, sua carreira como atriz marcou gerações, com personagens intensos e inesquecíveis. Em que momento você sentiu o chamado para transformar seu estilo de vida e olhar para si com mais profundidade?
Na verdade, esse chamado sempre existiu em mim. Desde muito jovem, sempre tive um olhar atento para dentro, buscando me entender, me transformar e evoluir. Nunca foi algo que surgiu de repente — sempre caminhei lado a lado com esse desejo de aprofundamento. Fui muito amparada pelos estudos que fiz ao longo dos anos, pelos livros que li sobre desenvolvimento pessoal, psicologia e também espiritualidade. As crenças que fui construindo, assim como o mergulho no universo holístico, me ajudaram a enxergar a vida e a mim mesma com mais consciência. A arte sempre foi um canal poderoso nessa jornada, mas o olhar para dentro sempre esteve presente.
2 A televisão brasileira te deu personagens marcantes e grandes aprendizados. Existe algum papel que tenha te transformado de dentro para fora como mulher e algum te despertou algo para vida pessoal?
Cada personagem que vivi me deixou uma marca positiva. De alguma forma, todos me trouxeram respostas para perguntas que eu nem sabia que estava fazendo. Cada papel me provocou, me transformou, me ensinou algo. Mas um deles, em especial, mexeu profundamente comigo: na novela
A Vida da Gente
, eu interpretava a mãe adotiva de uma menina que queria conhecer sua mãe biológica. Durante todo o processo de trabalho, essa situação despertou em mim uma reflexão muito íntima: se eu estivesse nesse lugar, deveria ou não contar à criança que ela foi adotada? Qual seria a melhor forma de oferecer segurança emocional a essa pessoa? Essa questão me acompanhou durante toda a novela e mexeu bastante com meu lado mãe e como ser humano. Foi um processo de empatia e questionamento muito intenso, que ultrapassou o set e me tocou de verdade.
3 Você vive nos Estados Unidos há alguns anos e passou por uma grande mudança ao deixar o Brasil. O que te motivou a fazer essa transição e como foi o processo de adaptação?
A minha principal motivação para essa mudança foi o meu filho. Na época, ele tinha apenas 7 anos, e eu queria oferecer a ele oportunidades melhores — tanto no campo da educação quanto, futuramente, no mercado de trabalho. Queria que ele pudesse ter acesso a boas instituições de ensino sem que isso significasse um peso financeiro insustentável, como tantas vezes acontece no Brasil. O processo de adaptação foi surpreendentemente tranquilo. Me senti segura desde o início, mais tranquila para caminhar na rua, sem o medo constante de ser assaltada a qualquer momento. Além disso, aqui tudo se mostrou mais acessível, mais affordable, o que também contribuiu muito para esse novo começo. Foi uma decisão baseada no amor, na praticidade e no desejo de construir um futuro mais estável para nós dois.
4 Seu livro Change nasceu de uma jornada pessoal e profunda. Que mensagem você espera que ele leve às pessoas que estão iniciando o próprio processo de transformação?
Meu desejo é que ele inspire as pessoas a abrirem espaço em suas mentes para o novo. Que se permitam questionar o que sempre tomaram como verdade, e consigam enxergar que a vida não se resume a uma ou duas possibilidades. Existe um mundo vasto de caminhos, escolhas e transformações possíveis.
A informação é uma ferramenta poderosa de transformação. E quando falamos sobre saúde, isso é ainda mais importante. Quanto mais conhecemos, mais podemos nos proteger, fazer escolhas conscientes e evitar armadilhas de sistemas que nem sempre colocam nosso bem-estar em primeiro lugar.
Acredito profundamente que o conhecimento é libertador, especialmente quando falamos de saúde. Quanto mais sabemos, mais autonomia temos para fazer escolhas conscientes e nos proteger das intenções nem sempre tão transparentes de certas indústrias. Meu desejo é que cada pessoa que leia o livro se sinta mais fortalecida para cuidar de si mesma, para realizar seus projetos e viver seus sonhos com mais vitalidade e liberdade.
5 Você fala abertamente sobre as pressões da indústria e sobre como doenças silenciosas influenciaram suas decisões. Acredita que, hoje, as mulheres escutam o próprio corpo com atenção suficiente?
Acredito que, hoje, muitas mulheres já começaram a prestar mais atenção aos sinais que o corpo dá, o que é um avanço importante. Mas ainda existe uma grande lacuna de informação quando se trata das causas silenciosas por trás de muitos sintomas. Como por exemplo, sobre os efeitos de certos alimentos ultraprocessados ou dos componentes químicos presentes em cosméticos e produtos de uso diário. Por isso, muitas vezes, o foco acaba sendo apenas nos sintomas, e não na prevenção. Assim acabam acreditando que o remédio é a solução, sem olhar para o que está gerando aquele desequilíbrio no corpo. Meu desejo é que cada vez mais mulheres possam se reconectar com seu corpo de forma profunda, buscar conhecimento e desenvolver uma consciência que vá além do alívio imediato — uma consciência voltada à causa, à prevenção e ao autocuidado verdadeiro.
6 Além de atriz, você se formou como health coach e mergulhou no universo da saúde integrativa. O que mais te atraiu nesse caminho e como ele se conecta com a sua história de vida? Você sentiu algum tipo de resistência — interna ou externa?
Resistencia interna eu sempre tive em relação a agulhas, e remédios. O que mais me atraiu nesse caminho foi a possibilidade real de prevenir doenças, de cuidar da minha saúde de forma tão completa que pudesse evitar remédios ou agulhadas na veia. Sempre tive o desejo de entender o porquê das coisas — e com a saúde não foi diferente.
Meu livro fala exatamente sobre essa trajetória: os desafios que enfrentei, os problemas de saúde que ia aparecendo e como fui descobrindo as causas para que a cura acontecesse.
É um caminho de consciência.
A resistência que encontrei foi externa. Muitas pessoas reagem com forte incômodo quando percebem que, somos nós mesmos os responsáveis pelos nossos desequilíbrios. E eu entendo — é muito mais fácil culpar fatores externos do que assumir as rédeas. Mas quando a gente entende que também pode ser parte da solução, tudo muda. É libertador.
7 Sua história inspira especialmente mulheres maduras. Qual a maior liberdade — e o maior poder — que a maturidade trouxe para sua vida pessoal e profissional?
A maior liberdade que a maturidade me trouxe foi saber com clareza o que me serve e o que não é pra mim. Aprendi a escolher melhor as minhas lutas, a preservar minha energia e a aceitar, com mais serenidade, aquilo que não depende de mim. Uma das lições mais transformadoras foi entender que, por mais amor e boa intenção que eu tenha, eu não posso mudar o outro. Essa consciência me libertou. Na vida pessoal e profissional, isso trouxe mais leveza, mais foco, e principalmente mais respeito por mim mesma. A maturidade me ensinou a parar de insistir em lugares que não me acolhem e a valorizar os que me fazem crescer.
8 Você sempre foi muito discreta em relação à sua vida pessoal, mas ao mesmo tempo, é alguém que se expressa com profundidade. Como encontra esse equilíbrio entre o público e o íntimo?
Sempre fui uma pessoa reservada no que diz respeito à minha vida pessoal, porque acredito que nem tudo precisa ser exposto para ter valor. Mas, ao mesmo tempo, sou alguém que sente e vive com muita intensidade — e essa profundidade acaba transbordando de outras formas: no meu trabalho, na escrita, nas conversas que escolho ter. O equilíbrio entre o público e o íntimo vem do discernimento. Aprendi que posso me expressar com verdade, compartilhar o que faz sentido e toca as pessoas, sem precisar abrir mão da minha privacidade. É como se eu dissesse: “Eu me mostro, mas não me exponho”. Esse é o ponto de equilíbrio que encontrei e que sigo respeitando
9 Sabemos que você é uma leitora apaixonada. Que temas ou autores têm sido presença constante nas suas leituras atuais?
Tenho lido bastante sobre saude mental ultimamente e alimentação anti-inflamatória, mas estou sempre com mais dois outros assuntos na cabeceira. Gosto de mergulhar em temas variados que me ajudam a expandir a mente e entender melhor o mundo e a mim mesma.
Recentemente, li Autocracia, da Anne Applebaum, que traz uma análise profunda sobre política e seus ditadores, Think Again, do Adam Grant, que nos convida a exercitar novas formas de pensar, Alem da Ordem, do Jordan B. Peterson, que aborda questões de responsabilidade e propósito; “Let Them”, da Mel Robbins, que fala sobre permitir que os outros sejam e ajam como são, sem que isso nos afete; A Pessoa Mais Feliz do Mundo, da Dani Valente, que fala sobre fibromialgia, e agora estou lendo Just Babies – The Origins of Good and Evil, do Paul Bloom, e Heatlhy Aging, Andrew Weil, M.D. de medicina interativa.
Cada um desses livros tem sido uma inspiração e um aprendizado para minha vida pessoal e profissional
11 E para fechar: o que tem te feito sorrir com o coração nos dias de hoje? Aquilo simples, mas profundamente verdadeiro?
O silêncio da manhã, ver o dia nascendo ou o sol se pondo, fazer carinho na minha gata e ela virando a cabecinha pedindo mais, observar os esquilos correndo pelas árvores, tomar um bom banho de mar ou de uma chuva torrencial, estar em contato direto com a natureza me faz sorrir de verdade.
Também me enche o coração de alegria quando vejo alguém melhorar seus hábitos, seja por uma conversa direta comigo ou pela leitura do meu livro. São esses pequenos gestos e conexões que renovam minha alma e minha energia.