Tania Khalill: Recomeços com Alma e Presença

Atriz, bailarina, apresentadora, mãe de duas meninas e imigrante desde 2017, Tania Khalill aprendeu a ouvir o silêncio, seguir o fluxo da vida e transformar pausas em potência. Nesta entrevista exclusiva para a Amora Conecta, ela nos convida a olhar com mais ternura para os próprios ciclos e nos inspira a recalcular a rota não como sinal de fracasso, mas como escolha corajosa de quem deseja viver com propósito.

1.⁠ ⁠Junho marca a metade do ano — um ponto de virada para muitas pessoas. Você costuma fazer uma pausa nesse momento para recalcular a rota? Como lida com esse “meio de ciclo” na sua vida pessoal e profissional?

Para mim, o meio do ano é sempre muito especial, porque tem a ver com a mudança de ano de vida. Eu sou de Julho, mas esse momento Junho também é um momento de reavaliação, como os astrólogos dizem: um mês antes do nosso aniversário, onde olhar para dentro, rever, é muito importante. E esse lugar de revisão tem muito a ver com o meu trabalho hoje em dia no programa No Palco da Vida, que tem a ver com essa ocupação do espaço da nossa jornada de uma maneira especial, onde possa haver o degustar da vida e trazer um fluxo diferente. Ao passo que a gente está no meio de uma jornada, Mulheres da Meia-Idade, que é onde o meu programa de meia-idade, onde o meu programa No Palco da Vida tem como foco, onde muitas estão passando por revisões. E isso partiu de uma necessidade própria, de uma revisão própria, e muito estudo unindo a psicologia, o psicodrama, a meditação e a arte. E eu acho que isso tem trazido para mim, para as minhas mentorandas, colaboradoras, esse lugar especial de revisão. Então, Junho para mim junta isso, essa revisão que eu já faço normalmente na minha vida, mas mais especial ainda por ser pré-aniversário.


2.⁠ ⁠Você já viveu algum momento em que uma mudança inesperada virou completamente a sua trajetória — e acabou te levando a um lugar melhor do que o planejado?

A minha vida, acho que desde pequena e como temperamento, eu aprendi a ouvir onde a vida estava me levando. Então, os meus planejamentos, eles não são a primeira coisa na minha vida. Eu sempre estudei, investi, me preparei para o que eu queria fazer, mas essa… A questão do mundo também chegar até mim sempre foi algo que aconteceu em muitos momentos. Então, eu posso dizer que na minha vida toda, na minha trajetória, não tanto num lugar mental, mas sim num lugar mais energético, a vida foi me levando para os melhores lugares. E as mudanças sempre foram recebidas como um aviso de que eu deveria ouvir para onde o fluxo da vida estava me levando.


3.⁠ ⁠Em muitos momentos, é o silêncio que nos mostra para onde ir. Qual foi o maior ensinamento que o silêncio te deu?

O silêncio, ele me dá a capacidade de parar, pausar, olhar para dentro, ver o que realmente há de positivo, trazer satisfação, sentido para a minha vida. Mas a nossa mente está muito agitada, então, eu fiz uma formação em Nova Iorque de mindfulness. Que tem muita ligação com a psicologia positiva. E eu aprendi como essa prática de pausar, de voltar com essa percepção do sentido mais profundo da vida, de bondade, de não julgamento, de aceitar as emoções como elas são, de uma escuta mais aprimorada. Isso tudo, a gente começa… É a chance de fazer quando a gente conecta com o silêncio. E o mindfulness fala isso, da gente atentar para o que há agora. Porque é isso que realmente traz satisfação na vida.


4.⁠ ⁠O que te guia hoje: metas concretas ou uma entrega mais intuitiva ao fluxo da vida?

Com certeza, as metas, elas são importantes porque elas dão um norte para onde a gente quer ir. Mas essa entrega intuitiva ao fluxo da vida é muito mais uma característica que domina a minha história, a minha jornada. E… Em algum lugar faz mais sentido para mim do que seguir passos, sabe? Foi assim, é assim. Então, eu acredito que isso não é só uma escolha. É um feeling, é uma sensação que está atrelada ao que o mundo também traz para mim.


5.⁠ ⁠Como mulher, artista, mãe e imigrante — quais foram os pontos de virada mais desafiadores da sua jornada? E o que te manteve firme em cada recomeço?

Os pontos de virada, acho que mais desafiadores, sempre foram momentos onde eu precisei me distanciar, do que parecia confortável, e me desafiar numa nova direção. Então, na minha carreira de atriz, em muitos momentos, que foram os mais desafiadores, foi morando em São Paulo, gravando novela no Rio, ter que fazer essa escolha: onde a minha família vai ficar nessa novela? Para onde vamos? Vamos ficar em São Paulo? Vamos para o Rio? Esse quebra-cabeça que um artista que trabalha numa cidade e mora na outra tem. E pensar que era um período que eu queria muito fazer aquilo como trabalho, mas que tinha um custo muito grande de ficar longe da minha família. Então, acho que isso exigiu muita resiliência emocional durante muitos e muitos anos da minha vida.


6.⁠ ⁠Existe algo que você precisou desaprender para conseguir avançar com mais leveza?

Amei essa pergunta. Eu acho que é sobre isso a vida! O que eu posso deixar ir? Porque, às vezes, a gente quer colocar mais roupa no nosso guarda-roupa, mas não tem espaço. Então, o que não funciona mais para mim? O que não faz parte mais e que me aprisiona onde eu estou agora? Eu acho que desaprender, e isso faz parte dessa jornada do meio da vida, é desaprender a valorizar o que o outro acha de mim… E me conectar mais e mais com o que realmente importa para mim. Deixar ir esse olhar do outro. E querer agradar. E, como artista, querer, às vezes, ser unanimidade. Isso nunca acontece. Traz sofrimento. Então, deixar o que não está no meu controle, porque, na verdade, isso é entregar. E quando a gente entrega para o fluxo da vida, não num lugar passivo, mas num lugar de que está observando ativo, é muito mais fácil e menos sofrido.


7.⁠ ⁠Você fala muito sobre propósito. O que te move hoje é o mesmo que te movia há 10 anos? Como essa noção de propósito evoluiu em você?

Em partes, sim, em partes, não. Eu, como pessoa, como alma, acho que vim aqui com uma missão de olhar para as emoções, de ajudar pessoas e, principalmente, de, começando comigo, trazer um estado de sentido para a minha vida, de um bem-estar, de uma vida bem vivida, e o meu trabalho, quando é na área da arte, eu busco isso, o entretenimento, onde faz a gente refletir, onde traz conforto, mas também traz incômodo, porque a arte, ela está nesse lugar. E como pessoa, também, olhar para esse incômodo e esse prazer que é estar viva. De estar aqui nessa jornada e trazer uma vida mais bem vivida dentro do que é esse espaço, de chegada e partida dessa terra. Mas com certeza evoluiu muito, acho que a minha relação comigo mesma, com o que eu desejo na simplicidade para a minha vida, mudou muito. Então a noção de propósito muda, porque eu não quero mais chegar em algum lugar, eu quero que a minha jornada seja em paz, seja feliz, seja degustada.


8.⁠ ⁠Em uma sociedade que valoriza o “fazer muito”, como você cultiva o “ser inteiro”?

Isso sempre me pegou muito. Eu fui uma criança, uma jovem, uma adulta, que sempre fez muitas coisas. Venho de uma família de muitos intelectuais, médicos, psicólogos. Então para mim, isso de ter que ser muito produtiva sempre foi muito presente na minha vida. Mas em qual medida? Qual a necessidade de parar, de pausar, de silenciar, de apreciar? E isso hoje em dia tem muito mais a ver com a minha vida, em vez dessa coisa de fazer, fazer, fazer. É uma autoaceitação de: eu não estou sendo inútil quando eu não faço. Pelo contrário, eu estou cultivando utilidades, apreciações dentro de mim que vão me ser muito mais úteis, porque eu vou chegar muito mais inteira na próxima etapa, na próxima ação, na próxima atuação, na próxima atividade.


9.⁠ ⁠A maternidade costuma ser um divisor de águas na vida das mulheres. Como ela transformou sua forma de enxergar o tempo, os ciclos e as pausas?

Com certeza a maternidade é um divisor de águas. Se eu pensar qual sempre foi o sonho número um da minha vida? Sempre foi ser mãe. Eu sou canceriana, eu tenho uma mãe maravilhosa, eu sou ligada ao amor, ao afeto. E eu não vou dizer que é fácil, né? Porque esse romantismo é mentiroso. Os primeiros anos para uma mulher principalmente que trabalha na vida do bebê é muito, muito desafiador. Mesmo para quem não trabalha também, porque tem uma série de sistemas hormonais, emocionais, acontecendo que são negligenciados. Mas não tem como. A maternidade ensina tanto sobre a mãe, né? A gente aprende tanto com as crianças, aprende tanto com esse amor absurdo que nos faz ser melhores, rever as nossas crenças, os nossos comportamentos em prol de troca de amor, de acolhimento. Então eu acho que é a missão mais incrível se a gente consegue se desprender de ter isso. Que a maternidade e esse guia dos pais perfeitos que é tão imposto na nossa vida. E a gente conectar com o lugar mais do amor. É um treino diário, ainda mais com adolescentes, mas é muito lindo o que disso sai. É muito especial, acho que é o amor mais poderoso, violento e quando a gente pode experimentar. Numa real relação com os filhos, a gente pode ser melhor com os outros no geral.


10.⁠ ⁠Se você pudesse deixar uma única frase como bússola para quem está recalculando a rota neste exato momento, qual seria?

A paz não é discurso, é postura!

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