Não faça contato visual. Esse foi um dos primeiros conselhos que recebi quando cheguei a NY. Mas acredito que esse é um conselho desnecessário, já que todos já estão grudados em seus celulares e não se preocupam mais com o que acontece ao redor.
Comecei a reparar no comportamento das pessoas na cidade e percebi o quanto é difícil iniciar uma conversa com alguém. As pessoas não se olham mais, não falam mais “bom dia” para um estranho, não dão mais sorrisos despretensiosos no meio da rua, e assim vamos vivendo nossas vidas solitárias na cidade.
Foi quando eu estava sem bateria no celular e indo para o trabalho no mesmo trem de sempre, que percebi um homem e uma mulher sentados na minha frente. Era como se uma cena de filme estivesse acontecendo. Os dois estavam a menos de um metro de distância um do outro, eram parecidos, se complementavam, usavam o mesmo estilo de roupa e tinham a mesma cor de cabelo. Seriam o casal perfeito, se ao menos se conhecessem.
Mas algo impedia que os dois se olhassem. O celular que seguravam nas mãos os separava de se conhecerem, de se conectarem. Eles não eram um casal, nunca se viram, não sabiam o nome um do outro, mas como seria se por um segundo se olhassem e encontrassem os olhos um do outro? Talvez começassem uma conversa, talvez falassem sobre o que gostam de ler ou o último filme preferido que assistiram, mas isso não aconteceu.
O casal da minha imaginação jamais existirá. Cada um desceu em sua estação de destino e nunca se viram, mesmo tendo compartilhado o mesmo espaço por um tempo. Seus hábitos modernos os separaram para sempre e uma grande oportunidade de encontrar um amor se foi.
Os mesmos personagens do trem podem estar procurando por um parceiro ideal em seus celulares, por meio de algum aplicativo de relacionamento, e estão perdendo a chance de encontrar o grande amor de suas vidas a caminho do trabalho, indo para a faculdade ou talvez no café da esquina que vende o melhor croissant da região.
Quantas oportunidades, amigos, amores perdemos todos os dias por estarmos imersos em nossas redes sociais, em nossas próprias distrações? Como poderíamos mudar isso?
Não sabemos mais viver sem essas distrações, não sabemos mais encontrar o que estamos procurando a vida toda e essa é a verdade: tudo o que queremos e sonhamos já está nos esperando, já está pronto; o que devemos fazer, somente, é observar e deixar as coisas acontecerem.
Por que não observar o céu um pouco mais sem tirar uma foto? Por que não tomarmos aquele sorvete com calma e apreciar aquele momento sem checar se alguém mandou mensagem? Por que não fazer uma viagem com os amigos para uma casa no campo e jogar jogos e conversar durante um final de semana sem se preocupar se algum e-mail importante chegou?
Eu acredito que todas as conexões importam, até mesmo as digitais, mas nada se compara às histórias que criamos pessoalmente com estranhos que podem se tornar o amor de nossas vidas.